quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Casa Escola no Círculo da Infância - TEAR

circulo infancia dumont4A Casa Escola participou do Círculo da Infância 2015, nos dia 25 e 26 de setembro, promovido pelo Instituto Tear.
(http://institutotear.org.br/)

O Seminário contou com a participação da querida e inspiradora Lydia Hortelio que nos convidou a resgatar o "minino" que existe em  cada um de nós. A cultura da infância é a cultura da brincadeira, da alegria que deve estar conosco a vida inteira. Lydia nos contou um pouco da sua experiência com cultura popular e "mininos". Sua jovialidade aos 83 anos é contagiante, sua musicalidade e espontaneidade nos toca quando fala de sua jornada. Nesse encontro chamou nossa atenção para sua esperança, pois acredita que o sistema educacional como está não pode piorar. É um momento de virada e precisamos nos dar conta disso. Precisamos de uma pedagogia que abrace, precisamos rir mais, encontrar a alegria. Acredita que estamos desviados na rota e que precisamos achar o rumo certo. Precisamos entender que o Brasil é uma país da festa, mas uma festa que faça sentido, que diga sobre o seu povo e não um entretenimento fútil. Nas nossas festas estão as nossas raízes e nossa força, nossa ancestralidade negra e indígena.

O encontro também nos apresentou Gandhy Piorski (Ceará) que contou um pouco de sua pesquisa com objetos e sucatas, que viram brinquedos e obras de arte com a criatividade das crianças. Nesse trabalho pode consolidar seu pensamento que a criança deposita sua alma no que faz e no que diz. A brincadeira é muito importante para a criança porque ela brinca com todo o ser. Não dá para fazer uma criança brincar quando ela não quer, por exemplo. É um estado e não uma função.
Conversou sobre a importância da oralidade na infância, pois é uma potencialidade da audição colocar o que ouvimos dentro de nós e fazer reverberar em ações, imaginação e vida. A oralidade é muito mais que informação através das palavras, é herança afetiva, herança de valores. A oralidade exige encontro, comunicação.
Ele afirma também que o educador precisa ter uma coragem etnográfica para aprofundar e conhecer o que se vê na criança. Não dá pra ficar no superficial do encontro.
Acredita que precisamos aprender a ler a natureza e apreender a natureza. Precisamos mudar nossos hábitos e observar o que fazemos mais fácil. Geralmente o que fazemos mais fácil fazemos melhor porque já estamos habituados, acomodados. Precisamos observar isso e procurar outras maneiras de fazer, descobrir novos caminhos. Precisamos brincar. Redescobrir o menino que nos habita sempre.

Entre uma conversa e outra aparecia Vicente Barros com sua voz mansa apresentando uma brincadeira gostosa. Muita roda, contato corporal, ritmo com palmas e pés.



Finalizando a tarde ouvimos muitas histórias do Mestre Roquinho, um ser iluminado que vem de lá, segundo o próprio afirmou, do centro do mundo. Vale do Jequitinhonha. Uma mineirice brejeira que nos fez rir e chorar. Brincou de roda contando histórias e versos das senhorinhas e meninos que foi conhecendo ao longo da estrada. Em cada recanto do Brasil tem uma lembrança, uma cantiga, uma luta, uma aprendizagem. Em cada comunidade e escola aprendeu um pouco mais. Com muito riso e disposição passamos a tarde a girar.
Em sua fala veio uma convocação para que achemos o nosso menino e o façamos brincar.
Ele nos contou que em uma de suas viagens para o Amazonas passou por uma situação bem inusitada. Entediado de estar há 3 dias no barco descendo o rio na sua imensidão, sem conseguir dormir nas redes eternamente estonteantes foi até a proa da embarcação e resolveu tirar fotos do dia amanhecendo. Lá pelas tantas observa que estavam passando próximo a uma comunidade e percebeu um ponto na água. Foi olhando mais detalhadamente e viu que era um pequeno barco. Com mais atenção reparou que eram dois meninos entre os 8 e 10 anos. Pensou o quanto era perigoso aquelas crianças estarem naquele barco tão pequeno num rio que chegava a ter 14km de distância entre suas margens. Mas o mais estonteante foi observar que os meninos estavam fazendo gestos com os braços, como se estivessem chamando: "vem,vem". Ele achou aquilo estranho, mas era real. Os meninos seguiam acenando com os braços, "vem, vem".  E diante disso reparou que o barqueiro parecia virar o barco e fazer surgir três pequenas ondinhas naquela enormidade de rio. Os meninos então paravam quietinhos no barco e ficavam sentindo aquela marola balançar sua pequena embarcação. Nem levantavam pra fazer bagunça ou gritavam. Não. Apenas se concentravam e sentiam o balanço das ondinhas. A embarcação grande segue viagem, Roquinho continua tirando as fotos, até que na próxima comunidade ele vê a mesma cena: meninos em pequenas canoas, remando na direção da embarcação gigante e acenando com os braços o "vem, vem". O barqueiro chega pra perto e faz a mágica das três ondinhas. Depois de várias ele resolveu conversar com o barqueiro. Perguntou se ele estava fazendo aquilo de propósito, afinal a embarcação carregava mais de cem pessoas, toneladas de alimentos e os meninos eram muito pequenos pra estar sozinhos naquela situação. Para o seu espanto e alegria, o barqueiro respondeu que sim, afinal tinha sido menino nas margens daquele rio e sabia exatamente o valor daquelas três ondinhas. E afirmou que não eram todos os barqueiros que faziam isso não, mas ele não conseguia deixar de ouvir o chamado dos meninos: "vem, vem". Tinha sido menino que nem eles.
Roquinho com sua reflexão nos diz que nós enquanto, professores e educadores temos um monte de menino olhando pra gente e dizendo: "vem, vem..." E nós estamos ouvindo esses meninos? Precisamos antes de mais nada lembrar do nosso menino. Quando lembrarmos dos nossos sonhos, desejos e brincadeiras da infância vamos entender melhor os nossos meninos.

As palavras  mais faladas nesse encontro foram: "minino", brincar e natureza.
"minino" porque no interior do Brasil e no nordeste criança é "minino". Brincar porque é assim que  a criança se desenvolve. E natureza porque é ela que nos dá os instrumentos para fazer nossos meninos brincarem.

Viva a infância e a natureza!
Obrigada TEAR.


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